sábado, 14 de agosto de 2010

Pedofilia, Igreja, Justiça e silêncio

14 de agosto de 2010

Lamentável! Quando as vítimas e suas famílias acreditaram que enfim suas vozes seriam ouvidas após sofrerem em silêncio a humilhação e a vergonha durante anos... O silêncio persiste. Antes, era imposto pela Igreja. Agora pela Justiça belga. O procurador-geral disse que as buscas realizadas em 24 de junho no palácio episcopal em Mechelen, Bélgica, sede da Igreja, são irregulares, como nos relata Le Soir.

475 vítimas de abuso sexual por eclesiáticos haviam aberto suas feridas em total confiança ao painel da Igreja Católica, presidida pelo psiquiatra infantil, Peter Adriaenssens. Dia 24 de junho, o juiz Wim De Troy ordenou uma batida policial extensiva no palácio episcopal de Mechelen, domicílio do cardeal Danneels, na mediática "Operação Cálice".


O Cardeal Danneels, antigo responsável da arquidiocese de Mechelen-Bruxelas, era suspeito de ter posto panos quentes nos eventos relatados nos dossiês. Estes foram pegos durante a operação, assim como diversos outros documentos, levando à demissão de todos os membros do painel e a comentários reprobativos do atual representante de Roma na Bélgica, o arcebispo Léonard e até mesmo do papa Bento XVI. RTL informou que o cardeal não foi acusado após audiência, conforme anunciou o promotor público de Bruxelas.


Para concluir com chave de ouro, ontem, o Ministério Público considerou a busca irregular. Todos os documentos recuperados durante a mesma não podem servir de prova; isto inclui os dossiês do painel. Em outras palavras, o juiz Wim de Troy perdeu todas as cartas e não tem mais nada para por na mesa. Além disso, como relata o jornal Le Soir, o Ministério Público de Bruxelas e o Ministério de Primeira Instância se recusam a revelar o conteúdo da decisão da Câmara de Acusações. Temem tornar públicas informações que prejudicariam a investigação. Que investigação? Não sobrou mais nada para o juiz.


Cai muito mal essa decisão judicial. Sobretudo poucos dias depois de explodir o escândo envolvendo o bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, o qual abusou sexualmente de um sobrinho e e comprava o silêncio da família há vinte e quatro anos.


Os únicos vencedores nessa história são os advogados da Igreja e os padres pedófilos. As vítimas e suas famílias perdem a esperança, o juiz de Troy perde suas provas, a Justiça sua credibilidade, os padres honestos perdem a confiança de seus paroquianos e a Igreja Católica, grande perdedora, só mais tarde verá o preço do silêncio.

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