quarta-feira, 18 de agosto de 2010

360° Europa

18 de agosto de 2010

Quanto à reforma do Estado belga, a postagem de hoje será curta. O préreformador (a cada eleição, negocia-se a formação do governo e a imaginação é sem limites para encontrar novos títulos para o negociador) Elio Di Rupo (PS) passará hoje às 15h30 no palácio real. Será que ele vai entregar o relatório ao rei? Não. A negociação não foi concluída, os flamengos acham insuficiente o que os francófonos puseram sobre a mesa, conforme informa Le Soir. Especula-se que Di Rupo verá o rei para obter um prolongamento de 48h, ou talvez para admitir sua derrota enquanto negociador. De qualquer forma a sua missão estaria fadada ao fracasso? Ou, como indica Le Soir, seria uma maneira de pressionar De Wever (N-VA) e suas demandas crescentes?


La Libre Belgique
descreve as negociações passo a passo. Os partidos francófonos PS, CDH, Ecolo, e os flamengos N-VA, CD&V, SP.A e Groen à mesa, o negociador Di Rupo redigindo o relatório de sessenta páginas. Relatório que leva em conta as demandas flamengas. Insuficientes para o norte do país. Aos 12,8 bilhões de euros de transferência do federal, os francófonos aceitaram adicionar 3 bilhões. Mais uma vez, insuficiente. Os flamengos queriam assumir mais responsabilidades financeiras. E mais foi adicionado. Insuficiente. Os flamengos incluíram nas demandas uma revisão integral do modo de financiamento do Estado. Os francófonos propuseram fazê-lo no próximo cálculo de orçamento da União. Insuficiente. Os flamengos querem a revisão do financiamento agora. Se La Libre admite que De Wever demonstrou uma certa boa-vontade, em compensação aponta os copartidários do mesmo no N-VA, os ultranacionalistas, como responsáveis pelo bloqueio atual. Sabendo-se que os outros partidos flamengos não influenciarão a postura do N-VA, respeitando o resultado das urnas, se pergunta se os flamengos compreendem que os francófonos já atingiram seus limites e não tem como fazer mais concessões. O jornal se indaga também até que ponto a intransigência do N-VA defende os interesses flamengos num país reformado ou se o seu objetivo desde o início era demonstrar a impossibilidade de negociar com os francófonos e a inviabilidade da Bélgica como a conhecemos hoje.


Gatos, tremei! La Libre Belgique e Le Soir anunciam o novo plano da célula "Bem-estar" do Serviço Público Federeal (SPF): esterelizar todos os gatos no país até 2016 para lutar contra a superpopulação felina. O "Plano Plurianual Gatos" prevê seis meses para ajustar a legislação e cinco anos para esterelizar os gatos por camadas. Os primeiros serão os abandonados, em seguida os que se encontram no comércio e finalmente todos os gatos domésticos serão identificados, catalogados e esterelizados. Parece piada, porém não o é. Verifiquei no site do SPF e baixei o pdf: http://www.health.fgov.be/eportal/AnimalsandPlants/19063159_FR. Quem quiser pode dar sua opinião:
apf.welfare@health.fgov.be. Os passarinhos ficarão felizes, no entanto os ratos também. Resta saber qual é o plano para diminuir a população de ratos e camundongos, cuja explosão demográfica incomoda muito mais do que a dos gatos.

O artigo mais importante do site do jornal El País é sem dúvida o levantamento anunciado do bloqueio de Melilla, território espanhol incrustado no norte do Marrocos. Militantes marroquinos pretendiam manter o bloqueio até o final de semana, impedindo a entrada de frutas, verduras, frutos do mar e materiais de construção. Os comerciantes de Melilla pediram para levantá-lo em respeito ao Ramadã. Os militantes levantariam o bloqueio também para dar uma chance à diplomacia com a visita do ministro do Interior espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba ao seu homólogo marroquino, Taieb Cherkaoui em Rabat, capital do Marrocos dia 23 de agosto. Os militantes realizaram o bloqueio em protesto ao que consideram uma atitude racista das autoridades espanholas. O incidente gota d'água foi a interpelação de quatro marroquinos com passaporte belga a bordo de um conversível na fronteira. Segundo os marroquinos, estes levavam uma bandeira hasteada no carro, os agentes de fronteira mandaram retirar, os marroquinos se recusaram e policiais vieram em reforço, batendo a tordo e a direito. Segundo as autoridades espanholas, os marroquinos se recusaram a apresentar os documentos, alegando que Melilla é território do Marrocos, fizeram piadas de mau gosto, que um dos agentes compreendeu por ser marroquino e falar vários dialetos. Ao subir o tom dos impropérios, os agentes de fronteira chamaram a polícia. Entre brutalidade policial e problemas de fronteira segundo o ponto de vista, o resultado foi o bloqueio da entrada de mercadorias na cidade autônoma de Melilla. El País se indaga quanto ao papel do rei do Marrocos, Mohamed VI, no desatar da crise, isto é, se haverá uma intervenção da parte do governo num conflito que já foi longe demais. O ex-presidente do governo espanhol, José María Aznar, visitará Melilla hoje, onde deve se encontrar com o presidente da mesma, Juan José Imbroda. Talvez ele visite um poste de fronteira. Sua viagem é para apoiar as autoridades locais.


Outro artigo que merece atenção no site de El País trata de violência doméstica. Não são mulheres vítimas de maridos violentos, porém pais batidos por filhos. Fenômeno social recente (quase inexistente nos anos 90 e presente desde os anos 2000 e em plena expansão no momento), a violência de filhos em pais envolve todas as camadas da sociedade. Um parte significativa dos casos ocorre em famílias desestruturadas onde a mãe apanhava do pai. Nos mais de 1.000 casos registrados por ano, há uma tendência cada vez mais feminina. Tratam-se sobretudo de filhas que surram as mães. O fenômeno é resultado direto de uma educação excessivamente liberal, onde é proibido proibir, uma relação pais e filhos em pé de igualdade, relação fusional, próxima demais. Segundo os especialistas, a baixa de natalidade levou os pais a colocarem seus (poucos) filhos num pedestal, permitindo-lhe tudo e proibindo-lhe nada. Há pais que creem que dizer não é criar um trauma no filho, quando na realidade estariam ensinando os limites, causando um certo nível de frustração necessário. Por outro lado, como diz um dos especialistas citados, Vicente Garrido, professor de Pedagogia e Criminologia da Universidade de Valencia, é muito fácil falar mal dos pais, mas afinal quem poderia criticar uma mãe solteira cuidando de seus filhos por não ter uma pedagogia excelente? Segundo Garrido, alguns jovens possuiriam uma predisposição a comportarem-se como se o mundo girasse em torno deles para seu uso e usofruto egocêntrico, caracterizam-se por desamor aos pais. São jovens que aprendem rapidamente que a violência é um meio fácil e rápido de se livrar do que não apreciam - hora de chegada, tarefas domésticas, etc - e de obter o que querem - dinheiro, menos cobranças, etc. Ser pai é missão impossível, sempre falhamos em algum lugar. Entretanto, o medo de admitir suas falhas é o que tem levado pais a esconder a violência que sofrem dos filhos. Aguentam em silêncio para não assumirem o "fracasso" da educação que deram e tornam-se submissos escravos. O artigo é longo, porém merece toda atenção: http://www.elpais.com/articulo/sociedad/pegan/propios/hijos/elpepusoc/20100818elpepisoc_1/Tes. Recomendo.

Um comentário:

  1. Valeria Pires de Souza18 de ago. de 2010, 22:29:00

    Não sou muito fã de gatos e marroquinos. Nenhuma semelhança, apenas os dois estão em minha lista de "desafetos". Os gatos, porque sou "mãe" de dois cachorros fofos que não gostam de gatos, hehehe... na verdade, desde pequena tenho receio, pois uma vez fui arranhada enquanto fazia carinho num gatinho... achei meio traidor o tal felino. Os marroquinos, porque são barulhentos e exibidos, e uma vez um deles resolveu me interpelar no Grand Place e não desgrudou de mim até que eu disse que chamaria a polícia. Enfim, pra mim gatos e marroquinos estão todos no mesmo patamar. Beijos

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