sexta-feira, 13 de agosto de 2010

360° EUROPA

Sexta-feira 13 de agosto de 2010

Era previsível. Como era de se esperar, Bruxelas se mostrou o nó da questão. Flamengos e valões desejam a capital da Europa, coração da União Européia e concentrado de lobbies europeus, de empresas multinacionais, cartão postal da Bélgica e home sweet home da família real. Cidade oficialmente bilíngue, 80% de Bruxelas fala francês.

A reforma do Estado belga se encontra numa bifurcação. Ou transfere de 12 a 15 bilhões de euros de orçamento (e competências) do federal para as comunidades (flamenga e valã) ou para as regiões (Flândria, Valônia e Bruxelas). Le Soir dá o contexto. Os flamengos preferem a primeira opção e os valões a segunda. A estratégia consistiria em isolar a capital (inclusive com a divisão de Bruxelas-Halle-Vilvoorde, uma longa novela que merece postagens à parte), mantê-la com fome de verbas e enfim coordenar a gestão da cidade entre as duas comunidades. Os valões não aceitam a visão flamenga, querem que a capital seja mantida como agora, uma região em si. Temem que a negação de Bruxelas enquanto região beneficie a independência da Flândria (que guardaria a mesma).

Mas, como lembra La Libre Belgique, as propostas do valão Elio Di Rupo são consideradas insuficientes pelos flamengos. Os sete partidos à mesa de negociação, socialistas, cristãos e verdes (os liberais ficaram fora do jogo) ainda terão muito o que discutir. Enquanto os francófonos consideram que 70% das demandas flamengas foram aceitas, os flamengos responder ser insuficiente. Querem mais, muito mais. Até onde cederão os francófonos e o que receberão em troca, veremos nos próximos episódios da palpitante vida política belga.

A capa de Libération fala da "confissão" de Sakineh Asthtiani, todavia o site comenta o crescimento econômico da França - 0,6% no segundo trimestre de 2010 e diminuição do desemprego com 35.000 empregos novos no mesmo período. Ainda é cedo para anunciar o fim da crise, no entanto, se a tendência persistir, a França atingirá seu objetivo de crescimento de 1,4% em 2010.

Outra preocupação do Libé são os desastres naturais em 2010. Calor excessivo e inundações no Paquistão, Índia e China, incêndios na Rússia... Há cento e trinta anos não fazia tanto calor quanto no primeiro semestre de 2010. Calotas polares e geleiras degelam, o nível do mar sobe. Libé cita várias catástrofes naturais que ocorreram este ano e se indaga sobre correlações entre as mesmas, citando diferentes pesquisadores e laboratórios mundo afora. E conclui que estamos apenas no início de um ciclo infernal de catástrofes. Consequência de explosão demográfica e subsequente urbanização descontrolada e frenética, e da má gestão dos recursos naturais. E a cada catástrofe a produção agrícola é afetada, causando aumento de preços e falta de alimentos no mercado, matando milhões de fome. A agricultura é, justamente, uma das questões centrais do debate climático, pois faz a ponte entre o clima e a geopolítica. Como diz o Libé, o ser humano é extremamente vulnerável face a forças que o ultrapassam. E não é a visão a curto prazo dos dirigentes que nos permitirá encontrar soluções duráveis.

O Correio da Manhã, em compensação se concentra em faits divers. Temos a escolha entre o enfermeiro que drogava pacientes e abusava sexualmente das mesmas, o médico que operou quatro pessoas, deixando três cegas, ou ainda o cadáver de uma senhora que faleceu no hospital e permaneceu junto ao outros pacientes na enfermaria por horas, acompanhando-os durante a refeição e visitas - detalhe: fazia um calor terrível e o ar condicionado não funcionava. Socorro!