quarta-feira, 1 de setembro de 2010

360° Europa

1 de setembro de 2010


Le Soir nos conta que o cardeal Godfried Danneels se considera difamado pelo jornal De Standaard. Segundo o periódico flamengo, o cardeal teria posto panos quentes no caso de abuso sexual do bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, sobre seu sobrinho. A par do ato de pedofilia, Danneels, antigo arcebispo de Mechelen-Bruxelas e representante de Roma na Bélgica, teria abafado tudo. A vítima gravou a conversa que teve com seu algoz e o cardeal Danneels dia 8 de abril. A gravação foi publicada por De Standaard. Nesta, o cardeal tenta convencer a vítima a se contentar com um pedido de perdão e pede que a história não se torne pública antes da aposentadoria do bispo de Bruges um ano depois. Como sabemos todos, o caso veio a público e o bispo de Bruges pediu demissão em 23 de abril ao reconhecer ter abusado de seu sobrinho por mais de dez anos. O cardeal Danneels repudia a publicação pelo De Standaard, dizendo-a manipuladora, criando uma imagem negativa do eclesiástico. Até poucos anos atrás, o cardeal era considerado um forte candidato ao papado. Não precisa de bola de cristal para adivinhar que o cardeal Danneels perdeu suas chances.

A volta às aulas estão na página web de La Libre Belgique, assim como as negociações para a reforma do Estado belga. O grande vencedor das eleições na Flândria, a N-VA, sai da mesa. Desde as eleições de junho, Bart De Wever tomou as rédeas das negociações, passando-as depois para o PS, vencedor na Valônia, isto é, Elio Di Rupo. Os negociadores estavam muito próximos de um acordo, porém no momento estão à beira do precipício. Segundo os francófonos, os flamengos CD&V e N-VA bloqueiam as negociações, já os mesmos dizem que são os francófonos que bloqueiam tudo. A N-VA quer incluir os partidos liberais do Norte e do Sul do país nas negociações e, segundo La Libre, alguns francófonos acariciam a idéia de negociar sem a N-VA. Difícil conciliar os socialistas e os liberais no poder, dois bicudos não se beijam. No entanto, mais espinhoso ainda está sendo encontrar interesses em comum entre o CD&V e a N-VA de um lado e os outros partidos à mesa das negociações de outro. Como sempre, caberá ao rei desenrolar o novelo de lã. E aparentemente será para muito em breve.

El Mundo e El País comentam a declaração do presidente americano, Barack Obama, sobre a retirada das tropas americanas do Iraque. Os dois jornais aproveitam as possibilidades tecnológicas da Internet para integrar no site o vídeo da declaração de Obama (traduzido em espanhol). Conforme contam os jornais espanhóis, Washington começa a retirada das tropas agora. 50.000 soldados devem partir do Iraque até dezembro de 2011 após sete anos e meio de presença americana. No auge da afluência, 165.000 se encontravam em solo iraquiano. Estima-se que um milhão de soldados americanos passaram pelo Iraque durante a Guerra do Golfo II. No total, 4.247 morreram e 34.268 foram feridos. Segundo o governo dos EUA (EE UU em espanhol), está no hora voltar para casa. O ponto de vista do governo iraquiano não foi comentado pelos periódicos espanhóis. No entanto, como já foi citado neste blog, o ministro da Defesa iraquiano, general Babaker Zeba, afirma ser cedo demais para deixar o Iraque e diz ser impossível reestruturar o exército de seu país antes de 2020. Ver postagem aqui 

Do outro lado do Canal da Mancha, The Guardian e The Independent também põem em evidência o mesmo assunto: o catch-wrestling entre Tony Blair e Gordon Brown. A autobiografia de 700 páginas do antigo primeiro-ministro Tony Blair estão sendo publicadas hoje. Seu desafeto, o também ex-primeiro-ministro e também líder do partido trabalhista Labour, Gordon Brown, teve direito a comentários picantes de Blair na autobiografia. Segundo Blair, Brown na liderança do país era um desastre previsível; seria dotado de uma inteligência emocional zero; sua perda nas eleições de 2010 para o conservador David Cameron era inevitável. Mas Brown não foi o único assunto, afinal encher linguiça de 700 páginas demanda muito mais. O Iraque é outro ponto forte nas entrevistas que Blair deu sobre o livro. O ex-primeiro-ministro se diz angustiado com as consequências, imprevisíveis segundo o mesmo, da participação britânica na guerra do Iraque. Seria um longo pesadelo que foi muito além do que ele poderia conceber. Nem a Grã-Bretanha nem os Estados Unidos haviam antecipado o papel da Al-Qaeda na guerra. Deixar Saddam Hussem no poder seria um risco maior do que retirá-lo. O que não é comentado pelos jornais britânicos é como Blair conseguiu arrumar tempo para escrever 700 páginas sem ajuda. A aposentadoria do ex-primeiro-ministro foi-lhe altamente profitável. Ao sair do 10 Downing Street, Blair foi imediatamente enviado ao Oriente Médio como emissário do Quarteto União Européia-ONU-Estados Unidos-Rússia. Desde então, 2007, fez fortuna trabalhando como consultante e dando conferências. Segundo Rue89, Blair abocanhou 17 milhões de euros em três anos com a autobiografia, consultoria, conferência, aposentadoria de ex-primeiro-ministro, etc.

Nenhum comentário:

Postar um comentário