segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Belgicanos

6 de setembro de 2010

Hoje, ao invés de comentarmos a imprensa européia, faremos um tour mais curto sobre o Blanc Bleu Belge (tente falar rápido três vezes seguidas), isto é, notícias belgo-belgas sobre a terra dos, como dizia o jornalista e colunista social Ibrahim Sued (estou traindo a minha idade), belgicanos.

Finalmente Elio Di Rupo (PS) pode tomar um bom banho e dormir. As sete semanas de negociações arruinaram sua aparência e desmancharam o criogenizado sorriso de orelha a orelha. No final das contas, as negociações deram com os burros n'água. Di Rupo se demitiu da função de préformador (seja lá o que isso significar) e o rei Albert II aceitou enfim sua demissão. Então ficou combinado assim: nada fica combinado e precisa negociar tudo de novo. O rei retirou seu bispo e agora lança mão de dois peões, o presidente da Câmara, André Flahaut (PS) e o do Senado, Danny Pieters (N-VA). Algumas peças descartadas do tabuleiro pelas urnas, leiam-se os liberais do norte e sul do país (Open VLD e MR respectivamente), querem entrar no jogo. Vamos ver que bicho vai dar...

Os negociadores flamengos lutam duramente para preservar seus interesses na periferia de Bruxelas e o dossiê BHV (leia-se Bruxelas-Hal-Vilvorde) é a prova. E o governo flamengo encomendou um estudo sobre a população das 19 comunas na periferia de Bruxelas e das 6 comunas "de facilidades" (onde todos deveriam viver em paz e harmonia independentemente da sua etnia). Que ducha fria deve ser para os negociadores flamengos mais radicais os resultados do estudo: a periferia está se tornando cada vez menos flamenga. As conclusões do estudo publicadas por Le Soir - mencionado por todos os outros órgãos da imprensa francófona - mostram no dia seguinte ao Gordel (passeio de 100Km de bicicleta pela periferia de Bruxelas com objetivo político de reafirmar o caráter flamengo da dita periferia) que a proporção de flamengos cai vertiginosamente nos últimos anos. O fenômeno é devido à migração de bruxelenses cuja língua materna não é o holandês para a periferia. Até 2060, BHV deve aumentar sua população em 28%, Bruxelas em 29% (exporta bruxelenses, porém continua crescendo) e a Flândria em 15%. Jovens casais com crianças pequenas falando holandês em casa representam 14% da população nas comunas de facilidades, 40% na periferia e 79% na Flândria. A tendência nas próximas décadas é de haver cada vez menos flamengos nos arredores de Bruxelas. Ora, a identidade flamenga da periferia é um principais argumentos dos negociadores do norte do país. Mas como justificar o combate dos mesmos se eles representam uma parcela da população cada vez menor justamente na área que concentra todas as atenções e disputas?

A quem interessar possa, comuna é uma cidade de segunda divisão, uma espécie de município que não possui o estatuto de cidade. Há 589 comunas na Bélgica e 87 cidades. Maiores explicações no Wikipedia ou no site do governo belga, belgium.be.

A quem interessar possa também, segundo o Houaiss, o habitante da Flândria pode ser chamado de flamengo, flandrense, flandrino, ou flandrisco.

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