sexta-feira, 10 de setembro de 2010

360° Europa

10 de setembro de 2010

Na Bélgica, Le Soir põe em evidência a futura pensão do ex-bispo de Bruges, Roger Vangheluwe: 2.800 euros até bater as botas. O bispo deveria se aposentar ano que vem. No entanto, em consequência da mediatização dos abusos sexuais que o ex-bispo cometeu sobre seu sobrinho, Vangheluwe se viu obrigado a demitir-se. Em virtude de sua longa carreira no seio da Igreja, terá direito a pensão completa, conforme anuncia o porta-voz do ministro da Justiça Stefaan De Clerck. No momento, o ex-bispo de Bruges permanece na Abadia de Vleteren Ouest, enquanto aguarda uma posição do Vaticano sobre os escândalos envolvendo-o.

La Libre Belgique prefere a reforma do Estado belga como matéria principal. Primeiro vieram no verão os furacões Bart De Wever (N-VA) e Elio Di Rupo (PS) como préformadores, negociadores ou outros títulos mais - o rei Albert II transborda de imaginação quando indica alguém para negociar reformas estatais; já tivemos direito a reformadores, préformadores, e até a caça-minas, dentre outros. Verdade seja dita, ele tem quatro anos entre cada eleição para encontrar termos novos. Vai uma sugestão: descorticador.
Voltando ao assunto, Di Rupo esteve perto, tão perto chegar a um acordo com os sete partidos à mesa de negociação, os verdes Groen ! e Ecolo, os socialistas SP.A e PS, os cristãos CD&V e CDH, e o nacionalista N-VA... O N-VA bateu o punho na mesa e exigiu a presença dos liberais Open VLD e MR. Di Rupo pediu demissão ao rei, foi tomar um bom banho e dormir. Albert II chamou o presidente da Câmara, André Flahaut (PS) e o do Senado, Danny Pieters (N-VA). E estes haviam trocado figurinhas com seis partidos, tudo parecia andar, até encontrarem Di Rupo, enquanto presidente do PS ontem à tarde. O último contestou o método utilizado por Flahaut e Pieters. O método consiste em uma lista sócio-econômica e uma lista comunitária com dezenas de pontos. Cada presidente de partido deve completar as listas e dar a sua ordem de preferência para cada ponto. Teoricamente, todos os partidos deveriam receber seus formulários até sexta-feira e fariam o dever de casa no final de semana. Segunda, os negociadores teriam os resultados e os compilariam para o relatório ao rei. Todavia, como Di Rupo não aceitou o método, Flahaut e Pieters se veem com o abacaxi nas mãos e devem elaborar outra forma de descascá-lo. Nunca gostei da linha editorial do jornal La Libre Belgique, porém estou revendo minha opinião. A melhor cobertura da reforma do Estado tem sido feita pela Libre. Vai muito mais além do que os outros órgãos da imprensa belga. Sou obrigada a tirar o chapéu. Quem quiser ler a cobertura da Libre de hoje, clicar aqui.

Enquanto isso...

Na França, Le Figaro, Le Monde e Libération enfocam o caso Woerth-Bettencourt. Como sempre, a corrupção dá emprego a um bocado de jornalista, sobretudo num caso como este em que a cada dia revelações são feitas. Hoje há três novas.

Eric Woerth, atual ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Função Pública (mas que título pomposo!) teria anulado uma inspeção fiscal do chefe da Sociedade Francesa de Cassinos, Pascal Pessiot. Woerth era na época (2009) ministro das Finanças (ou, para sermos mais exatos, ministro das Finanças, das Contas Públicas e da Reforma do Estado; os franceses não fazem por menos).

A segunda novidade é relativa a Bernard Mardoff. Lembram? Foi aquele 171 que criou uma pirâmide em Wall Street e arruinou diversas fortunas mundo afora. A família Bettencourt teria feito negócios escusos com Madoff através de contas em Luxemburgo. O administrador atual dos bens da família herdeira de L'Oréal, Patrice Demaistre, recebeu uma condecoração da Legião de Honra por recomendação de Eric Woerth.

A terceira bomba é relativa à coleção de arte de François-Marie Banier financiada pelos Bettencourt. O artista fotógrafo-pintor-escritor teve direito a diversos quadros de pintores mais do que renomados num valor de 19,5 milhões de euros.

Os nomes Woerth e Bettencourt têm sido escritos com hífen pela imprensa francesa em razão das diferentes ligações entre o ministro do Trabalho e os herdeiros L'Oréal. A esposa de Woerth arrumou um emprego graças a Patrice Demaistre, administrador dos bens Bettancourt. Este ganhou sua condecoração graças à influência do ministro na Legião de Honra. E, mais importante de tudo, Liliane Bettencourt doou uma fortuna ao partido UMP durante as eleições. Eric Woerth era então o tesoureiro do partido para a campanha do atual presidente Nicolas Sarkozy. A briga de Liliane Bettencourt e sua filha deflagrou uma série de revelações que colocaram o ministro Woerth em situação delicadíssima e o escândalo respingou no presidente Sarkozy.

Woerth também tem seu blog. Clicar aqui. Para conhecer um pouco mais seu percurso, clicar aqui no site do ministério do Trabalho.

Um comentário:

  1. O cara faz tudo isso e ainda vai se refugiar na Abadia de Vleteren Ouest? Corrija-me se estou errada, mas não é lá que é produzida uma das melhores cervejas belgas? Coitado...!

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