quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Belgicanos

15 de setembro de 2010

Os três grandes sindicatos belgas, FGTB (socialista), CSC (cristão) e CGSLB (liberal) organizam uma manifestação hoje às 11h em Bruxelas (rótula de Schuman) para defender a aposentadoria e a pré-aposentadoria, como nos conta Le Soir. A manifestação deve fazer pressão na discussão entre os sindicatos e a federação de empresas belgas (FEB) prevista para 17h. 274 milhões de euros estão em jogo para aposentados, pré-aposentados, incapacitados e desempregados.

La Libre Belgique especula sobre o fim da Bélgica como a conhecemos hoje. A questão que orienta seu artigo principal é: "Em caso de separação, como ficaria a ex-Bélgica em relação às União Européia?". Se por exemplo, a Flândria declarar independência, os "restos" da Bélgica continuariam a ser um país membro e os flamengos necessitariam se candidatar. Se a Bélgica se desmembrar, ambas partes precisariam se candidatar. Se a Flândria se tornar independente e se candidatar a país membro da União Européia (UE), precisaria respeitar o Tratado de Lisboa, inclusive no que diz respeito aos direitos de livre circulação e respeito de minorias étnicas. Em outras palavras, a Flândria teria de fazer enormes concessões sobre o respeito de francófonos na periferia de Bruxelas, isto é, uma política de integração oposta à atual. E teria de criar um Banco Central. Enquanto aguardasse sua entrada na UE, poderia beneficiar de um estatuto de micro-Estado associado como San Marino, Mônaco ou o Vaticano, e manteria o euro enquanto moeda. Caso a Bélgica se desmembrasse, a sede da União estaria fora de um país membro. Se a briga por Bruxelas demorasse, a Comissão, o Parlamento e etc (bota etc nisso) talvez tivessem de fazer as malas e se mudar. Ou fizessem pressão para que uma solução mais curta fosse achada. No momento a política européia consiste em considerar a disputa por Bruxelas uma questão própria à Bélgica. No entanto, conforme comenta La Libre, a separação da Bélgica poderia vir a ser a gota d'água que faz transbordar a União. A gestão de políticas em comum a vinte e sete já é problemática. Aumentar o número de países membros multiplicaria a dificuldade de negociações e poderia até por em risco a existência da UE. Afinal, se a mesma existe para integrar, como criar união onde países se desmembram? E seria a Bélgica o estopim para a independência de outras regiões como a Escócia, ou o País Basco por exemplo? Como seria a convivência dos grandes países europeus como a Alemanha, motor da Europa, com uma miríade de países cada vez menores?


Obs: Retirei o jornal francês Libération da lista de fontes - coluna da direita. Apesar de apreciar muito o mesmo, tanto pelo conteúdo quanto pela forma, botei o Libé para fora. Os artigos são pagos. É verdade que se trata de uma tendência; vários jornais mundo afora preferem deixar uma amostrinha dos artigos e exigem pagamento para ler o resto. Mas, por outro lado, os artigos se tornam menos lidos e menos citados. Pode-se dizer que é um tiro no pé? Talvez. Afinal, no jornalismo como no mundo científico não adianta nada realizar um trabalho fabuloso se ninguém cita.

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