sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Tenho 58 escravos

Exploro 58 escravos. Segundo o site Slavery Footprint, 58 pessoas mundo afora ralam noite e dia em geral em condições horrorosas por uma remuneração ridícula ou inexistente para sustentar minhas necessidades ou desejos burgueses. Fiz a sondagem e o resultado vai texto abaixo.

58 escravos só para mim


Quantos escravos trabalham para mim? 58, sendo a média mundial de 25.


Onde se encontram meus escravos ?

A maioria está na China, porém encontram-se também na Austrália (?!), no Brasil (a abolição da escravatura foi em 1888), e, ora veja, nos EUA, entre outros.


Com o quê explorar as pessoas ?

Mas o que faz de mim uma exploradora de mão-de-obra escrava? As categorias de produtos são sobretudo os eletrônicos, a casa e as roupas.


A casa

É verdade que moro numa casa bastante grande e com um carro na entrada (dentro da garagem seria impossível, está cheia de tralha). A casa é grande demais na hora da faxina e pequena demais quando se quer ficar tranquilo num canto.


As jóias

Sim, tenho jóias. Sejamos honestos, não são muitas. Tenho horror do efeito "árvore de Natal".


O banheiro

O armário do banheiro, em compensação, está lotado. Não posso nem me maquiar, nem me lavar, nem passar xampu no cabelo, nem botar um perfume ou escovar os dentes sem explorar de forma vergonhosa mão-de-obra escrava.


Eletrônicos

Em matéria de eletrônicos, até que sou bem razoável. Sou apenas uma "Regular Joe", isto é, algo entre um dinossauro e um geek. Eu que acreditava estar invadida pelo eletrônico até às veias, no final das contas estou a léguas dos fãs de aparelhos.


Consequências

Para concluir a sondagem, mudo para um apertamento no qual espremerei minha família - e do qual sairei pouco após meu futuro divórcio, afinal acabaremos todos por dar piti por falta de espaço vital. Fundirei minhas jóias e as darei a uma ONG humanitária e assim estarei sempre atrasada, pois não terei mais relógio. Não escovarei mais os dentes, não lavarei mais o cabelo, aliás não tomarei sequer uma chuveirada mais simples ainda; acabou a perda de tempo com maquiagem, manicure e pedicure, e por que raspar as pernas, me perfumar agora que sei que tudo isso gera escravidão? Ah, sim, quanto às dores de cabeça, paciência. Devo esquecer as lentes de contato, a escova de cabelo que de qualquer forma não lavarei mais, e acabarei tendo um câncer de pele; os filtros solares são produzidos por escravos.

Bom, vocês entenderam, é praticamente impossível evitar o uso de mão-de-obra escrava. É muito mais comum do que eu imaginava. Outras categorias de bens de consumo são analisadas, como alimentação, roupas, material esportivo, etc. O instrumento precisa ainda de melhorias. Não consegui incluir meu marido e meu filho mais velho. Quando se analisa detalhadamente vestuário e brinquedos, não se sabe se as quantidades indicadas são por pessoa ou para a família.

O site é certamente interessante e serve para jogar na cara nosso próprio papel na escravidão mundial. No entanto, a sondagem leva a algumas perguntas estranhas.


A sondagem - um instrumento de marketing?

Sem querer pôr em dúvida as intenções de Slavery Footprint, se eu quisesse lançar um negócio dirigido a pessoas que têm preocupações equitáveis de consumo... Eu colocaria em linha uma sondagem bonita, animada, que conscientiza, sendo ao mesmo tempo gráfica e lúdica, de preferência pedindo aos internautas para recomendar a pesquisa a seus amigos Facebook afim de comparar os resultados.

Xi, é exatamente assim que funciona Slavery Footprint. Graças à pesquisa, eles sabem qual é a minha faixa etária e a dos meus filhos, que bens de consumo nós possuímos e que tipo de produtos, nossa zona geográfica por país, e muitas outras informações que eu jamais teria dado se um site me tivesse simplesmente perguntado.

Enfim, uma sondagem online pode ser um modo honesto de conscientizar, porém também pode perfeitamente bem servir para pesquisar o mercado e o público alvo definido. Uma pesquisa como a de Slavery Footprint é um excelente instrumento de marketing.

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